Câncer de pulmão: conheça as ações de prevenção, assistência, ensino e pesquisa do HA voltadas para a doença
Segundo estimativas para o triênio 2023-2025, do Instituto Nacional de Câncer (INCA), cerca de 32 mil casos de câncer de pulmão devem ser diagnosticados por ano no Brasil, o que coloca a doença como a quinta mais incidente entre todos os tipos de tumores malignos. No Hospital de Amor, de acordo com dados do departamento de Registro de Câncer, são aproximadamente 500 novos casos por ano, que muitas vezes chegam em estágios avançados, em decorrência da dificuldade no diagnóstico precoce, já que a doença, normalmente, não possui sintomas no estágio inicial. É o que reforça um levantamento do Instituto Oncoguia, que mostra que 86% dos pacientes recebem o diagnóstico tardiamente, quando a doença já não possui mais possibilidade de cura.
Apesar dos diversos fatores que favorecem a ocorrência do câncer de pulmão, como exposição a agentes cancerígenos químicos ou físicos, infecções pulmonares de repetição, doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema pulmonar e bronquite crônica) e fatores genéticos, o tabagismo ainda é o principal fator de risco para o desenvolvimento da doença, com até 85% dos casos diagnosticados associados ao consumo e exposição passiva aos derivados do tabaco.
“Nem todo indivíduo que fuma ou fumou desenvolverá câncer de pulmão, e isso ainda é realmente difícil de se prever, mas sabe-se que a chance de seu desenvolvimento está diretamente relacionada à carga de tabaco com a qual que se teve contato”, explica o médico radiologista do Hospital de Amor, Dr. Rodrigo Sampaio Chiarantano. Sabe-se também que a mortalidade em decorrência da doença entre os fumantes é cerca de 15 vezes maior do que entre pessoas que nunca fumaram, já entre os ex-fumantes essa taxa chega a ser quatro vezes maior.
Especialistas explicam que o início do diagnóstico pode ser feito com um exame simples de raio-X de tórax. Mas, caso seja constato a presença de lesão pulmonar, é necessário a realização de exames complementares, como tomografia computadorizada, ressonância magnética, broncoscopia e posteriormente, a biópsia da lesão. O oncologista clínico do HA, Dr. Carlos Eduardo Baston Silva, conta que as principais modalidades de tratamento são: cirurgia nos estádios iniciais, quimioterapia, radioterapia, terapia-alvo e imunoterapia, isolados ou em combinação.
Visando colaborar com a mudança do histórico da doença no país, o HA possui diversas iniciativas voltadas para o diagnóstico precoce, tratamento, ensino e a pesquisa em câncer de pulmão. Conheça melhor:
Pioneirismo no diagnóstico precoce
Há 4 anos, com o intuito de reduzir as taxas de diagnóstico tardio, o HA lançou um programa de rastreamento ativo de câncer de pulmão, como parte de uma iniciativa mais ampla da instituição, que se destaca por incluir também atividades de prevenção primária e pesquisa científica de ponta com marcadores biomoleculares.
Em um formato pioneiro na América Latina, uma unidade móvel foi equipada com um tomógrafo computadorizado de baixa dose e direcionada a fazer o acompanhamento da população de risco. O programa é o único no Brasil que integra dados de diversas esferas da área da saúde e oferece gratuitamente esse exame aos usuários do Sistema Único de Saúde. Inicialmente, o projeto atendeu com exclusividade os encaminhamentos dos participantes dos grupos de cessação de tabagismo, mas, atualmente, o rastreamento está disponível para todos os indivíduos que fazem parte do grupo de risco e que residem em um dos 18 municípios que compõem Departamento Regional de Saúde de Barretos (DRS-V).
O diferencial desta unidade móvel é o laudo, que foi elaborado para o programa, pensando em tornar a informação mais acessível ao paciente. O documento é composto por texto em linguagem mais simples e direta, acompanhado de um reforço visual que ilustra o significado dos achados. No laudo, são descritos os achados do exame potencialmente relacionados ao tabagismo e explicados os passos seguintes a partir dali. Ele foi desenvolvido pensando no melhor entendimento do indivíduo participante, estimulando o autocuidado e a vigilância de saúde. Os pacientes têm retornado com grande satisfação. Alguns deles relataram, inclusive, que o processo de rastreamento como um todo auxiliou na decisão de parar de fumar.
De acordo com Chiarantano, o projeto permanece como o único envolvendo esforços combinados de prevenção primária nos municípios (secretarias municipais de saúde) e rastreamento, sendo integralmente gratuito e utilizando uma unidade móvel. Até o momento 520 pessoas já passaram pela unidade, mas a meta é acelerar as atividades que ficaram estagnadas durante a pandemia de covid-19 e checar a 3 mil atendimentos até o final de 2024. Desde o início do projeto, cinco pacientes foram diagnosticados com a doença ainda no início.
Podem participar homens e mulheres, fumantes ou ex-fumantes de alto risco. Para verificar a situação de alto risco, basta acessar a calculadora online desenvolvida pela equipe e preencher os dados, que o aplicativo determina o risco e define a indicação ou não de se fazer o exame. Sendo de alto risco, basta entrar em contato pelo telefone 3321-6600, ramais 7010 ou 7080 e agendar o exame.
Avanços científicos
Consequência da seriedade e qualidade do programa de prevenção e rastreamento de câncer de pulmão, o Hospital de Amor foi aceito como colaborador em um grande consórcio de pesquisa internacional, o International Lung Cancer Consortium (ILCCO), que possibilitará melhorar o entendimento da genética relacionada ao câncer de pulmão, a melhor caracterização de grupos de risco e de fatores de decisão em relação aos achados de exame. “Trata-se de pesquisa de ponta e de qualidade, com grande potencial de contribuição para a ciência e para a redução da mortalidade por câncer de pulmão. Com base em informações obtidas sob consentimento em amostras biológicas dos indivíduos participantes, diversas características genéticas e biomoleculares estão sendo investigadas, traçando um perfil particular da nossa população, que se somam aos dados já obtidos de outras populações ao redor do mundo”, ressalta o radiologista.
Além disso, o Instituto de Ensino e Pesquisa do HA possui, desde 2018, o Grupo Translacional de Oncologia Pulmonar, cadastrado e certificado pelo CNPq, com o objetivo de fortalecer a investigação a pesquisa translacional em câncer de pulmão, desde o paciente, passando pela patogênese molecular até a aplicação na prática clínica empregando tecnologias de ponta. “O nosso grupo tem um caráter totalmente multidisciplinar e essa multidisciplinaridade alavanca as pesquisas sobre o câncer de pulmão, tendo sempre como nosso foco principal o paciente. Atualmente, atuamos no desenvolvimento de novos painéis moleculares e na investigação de biomarcadores para auxiliar a equipe médica no manejo do paciente”, explica a pesquisadora Letícia Ferro Leal.
Avanços tecnológicos – cirurgias torácicas robóticas
Desde agosto de 2022, o Hospital de Amor realiza cirurgias torácicas com auxílio de robôs aos seus pacientes, gratuitamente. De acordo com o médico cirurgião do hospital, Dr. Luís Gustavo Romagnolo, esse tipo de procedimento é uma melhor opção para o paciente e os que realizam tratamento de neoplasia no pulmão são os principais beneficiados com o procedimento. “Com essa tecnologia, conseguimos contribuir com um melhor resultado estético, uma maior precisão, menos dor e desconforto durante o pós-operatório, menos riscos de infecções na ferida operatória e menos chances de hérnias incisionais a curto e médio prazo”, afirmou.
A iniciativa foi idealizada pelo grupo de cirurgiões do departamento de cirurgia torácica oncológica do HA, formado pelos médicos Dr. Wilson Chubassi de Aveiro, Dr. Maurício Cusmanich, Dr. Rachid Eduardo Noleto da Nóbrega Oliveira e o chefe do departamento, Dr. José Elias Abrão Miziara.
Avanços tecnológicos – alta tecnologia em radioterapia
O Hospital de Amor é uma das poucas instituições do Sistema Único de Saúde a oferecer radioterapia estereotáxica corporal (SBRT), uma técnica avançada e de alta tecnologia, não custeada pelo poder público. Em outubro de 2022, a revista científica The Lancet Regional Health – Americas publicou um artigo escrito por médicos e pesquisadores do HA, em parceria com profissionais da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, que teve como objetivo avaliar se a SBRT é uma estratégia mais custo-efetiva do que a radioterapia fracionada convencional. O trabalho, teve como base pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas em estágio I inelegíveis cirurgicamente. O estudo traz resultados que provam que o uso da modalidade SBRT resulta em mais anos de vida para os pacientes.
“Hoje, o tratamento padrão curativo é a lobectomia — a remoção de um lobo pulmonar por meio cirúrgico. O problema é que boa parte dos que descobrem o tumor no estágio inicial é quem fuma, o idoso e quem tem o coração fraco ou outras doenças derivadas do cigarro, da vida e da idade”, explica um dos coordenadores do estudo, o radio-oncologista Alexandre Arthur Jacinto.
A SBRT age somente no nódulo e protege qualquer tecido ao redor, através de uma técnica com base em tomografias 4D. “Enquanto respiramos e falamos, o pulmão se movimenta e o nódulo também. Como faço um tratamento preciso numa região que se movimenta o tempo inteiro? A estereotaxia trata esse tumor rastreando seu movimento. Eu vejo o movimento do nódulo e consigo dar uma dose gigante de radioterapia com a possibilidade de controle desse nódulo de 90%, que é o mesmo que a cirurgia oferece”, destaca o especialista.
Educação – Projeto Inspirar
O Núcleo de Educação em Câncer do Hospital de Amor criou, em 2020, o Projeto Inspirar, mediante a necessidade de proporcionar aos adolescentes a reflexão e a conscientização dos malefícios do tabaco, tendo em vista que é durante o período entre o ensino médio e superior, que o número de usuários de tabaco cresce, tornando-se importante fator de risco para o desenvolvimento de doenças na idade adulta, como o câncer de pulmão. Nesse contexto, o intuito é estimular os adolescentes a se conscientizarem sobre os malefícios do tabagismo, antes que possam se tornar usuários, além de incentivá-los a realizarem a divulgação científica sobre essa temática, junto à comunidade.
O projeto é iniciado por meio de uma capacitação proporcionada aos educadores da comunidade escolar, a fim de que estes conheçam de forma mais aprofundada as consequências do tabagismo, além de receberem orientações sobre como o projeto deverá ser desenvolvido com os alunos. Posteriormente, as inscrições para participar do projeto são abertas. Cada escola pode inscrever grupos de no máximo cinco estudantes do 9º ano acompanhados de um professor orientador, que devem cumprir as seguintes provas, dentro da plataforma virtual do projeto: 1 – Quiz de perguntas e respostas; 2 – Campanha nas Mídias Sociais Antitabagismo; 3 – InspirAção e Ciência (abrangendo a elaboração de apresentações criativas de divulgação científica sobre a temática do projeto). Todas as provas proporcionam uma quantidade de pontos para as equipes, que são indicadas por uma Comissão Avaliadora composta por profissionais do Hospital de Amor e das Secretarias Municipais de Educação.
Como culminância, o projeto finaliza-se por meio da apresentação das 10 equipes destaques na terceira prova em um evento. Após as apresentações, são divulgadas as colocações de cada grupo finalista que recebem junto de seu professor orientador e de sua escola os respectivos prêmios.